Palmas para esta iniciativa - Veterinários Sem Fronteiras
As suas funções resumem-se à castração de cães e de gatos, pertencentes a associações da área que se dediquem, sem fins lucrativos, à recolha e protecção de animais abandonados. Só nestas condições é que os dois germânicos trabalham. Em meia-dúzia de dias em Valongo, irão castrar, entre machos e fêmeas, cerca de 200 animais, pertencentes ao Cantinho das Quatro Patas, aos Amigos dos Animais de Valongo, à Associação da Quinta e ao próprio canil municipal.
Vieram de Cabo Verde e hoje seguirão para Espanha e, depois, para a Grécia. Esta é a segunda presença em Portugal, pois já estiverem em Loulé.
Mas por que carga de água surgiram dois alemães em Valongo? Muitos simples. Devido ao contacto mantido entre Fernando Rodrigues, o veterinário municipal, e a Europäischer Tier- Und Naturschutz (ETN), a entidade, também alemã, que paga aos dois veterinários. Trata-se de uma organização que se dedica aos animais e à natureza, apoiando projectos que tenham pernas para andar. No caso concreto, sabendo a ETN o trabalho que Fernando Rodrigues está desenvolver, em Valongo, para evitar a proliferação de animais abandonados, logo disponibilizou dois veterinários e um operador de câmara, que regista tudo o que seja relacionado com as tarefas dos dois veterinários, desde a chegada dos animais até ao regresso ao canil que os acolheu.
Começam a trabalhar às oito horas e só param meia hora para um almoço-lanche, cerca das 16 horas. Como são vegetarianos, nada melhor do que um salto a um supermercado para comprar pão, bolachas e tostas integrais, queijo, iogurtes, chocolates e água. E aí está uma refeição para entreter o estômago e preparar mais quatro horas de trabalho.
As condições no Centro Veterinário Municipal de Valongo, em Campo, são excepcionais e nada ficam a dever a uma clínica. Extremamente zelosos, os dois veterinários preparam os animais com muita atenção, tendo cuidados especiais com a esterilização do material.
A castração de uma fêmea demora 40 minutos, menos dez se se tratar de um macho. A ideia é sempre a mesma evitar o aumento de gatos e cães vadios. Mas o objectivo pode ir um pouco mais longe: a castração das fêmeas evita o quase sempre letal cancro nos ovários. Nos machos, torna-os mais dóceis, sobretudo em relação a outros animais, diminuindo-lhes a agressividade.
Alguns minutos depois da pré-anestesia, o animal, já dormente, é submetido a uma segunda anestesia, assim como lhe é injectado antibiótico, para prevenir infecções, e um produto para impedir a dor. Meia hora depois da castração, já salta, feliz e contente, pronto para o último acto - a desparasitação. Fica 24 horas de quarentena, para que os médicos possam verificar se houve complicações pós-operatórias. Se tudo estiver bem, lá regressa o cão ou o gato à associação que o acolheu.
Com um trabalho a todos os títulos exemplar e um profissionalismo digno do maior realce, Ines Leeuw e Thomaz Busch perseguem há oito anos o mesmo objectivo acabar com os animais no meio das ruas. Uma tarefa anónima, que muitas vezes tem como único testemunho a objectiva atenta de Stefan Bröcklinj.
Um trabalho que passa despercebido
Fazer bem aos animais não merece, regra geral, honras de um título nas primeiras páginas. Daí que a tarefa desenvolvida pelos dois veterinários alemães passe despercebida ao comum dos mortais, se calhar também ele pouco dado à questão dos direitos dos animais. Mas eles não parecem nada preocupados por a fama lhes passar ao lado. Têm um objectivo que os une, quiçá uma utopia acabar com os animais abandonados.
Para tal, trabalham 12 horas por dia e todas as semanas mudam de país, às vezes de continente. É um trabalho ciclópico, que os obriga a não ter descanso. Os animais agradecem, o homem segue indiferente. Prefere assobiar para o lado.
Texto retirado do JN